A proximidade entre consumidor e produtor diminui custos e reduz a emissão de gases tóxicos associados ao transporte. Este é um dos princípios da Raízes, uma exploração agrícola, em produção biológica, próxima a Vila Nova de Gaia. Pedro Rocha, um dos mentores do projecto iniciado em 2005, fala dos desafios de ser jovem agricultor em Portugal, bem como das mais-valias da agricultura próxima dos grandes centros urbanos.
Sara Pelicano | quinta-feira, 23 de Junho de 2011
O cosmopolitismo da cidade fica quase sempre fora do imaginário associado ao trabalho da terra. Pedro Rocha e Sarah Krüger começaram em 2005 a dar os primeiros passos no projecto Raízes, contrariando a ideia de ligar a agricultura à interioridade geográfica.
Os jovens empreendedores, respectivamente com 35 e 32 anos, contam que a iniciativa Raízes «partiu da vontade de ter um projecto próprio de acordo com princípios com os quais nos identificamos. Estando a nossa formação ligada às ciências do ambiente, biologia e sociologia, o conceito desenvolvido para a Raízes, de agricultura biológica em contexto urbano, foi a nossa aposta. Uma empresa, para além de economicamente viável, também ecológica e socialmente sustentável», explica Pedro.
O início da empresa decorreu no sector comercial, «vendendo cabazes de produtos biológicos com entrega directa ao domicílio». Em 2008, Pedro e Sarah alcançam um dos grandes objectivos: cultivar. «Conseguimos encontrar o espaço ideal para a implementação do projecto de produção. Contudo, esta opção de arrancar logo com a parte comercial começa agora a revelar-se uma excelente aposta pois temos uma boa parte do escoamento da nossa produção garantido», conta Pedro Rocha.
Hoje o projecto Raízes produz hortícolas em dois hectares de terreno (arrendado) localizados em Arcozelo, a sensivelmente dez quilómetros de Vila Nova de Gaia. Pedro sublinha que, apesar da proximidade com o litoral e com uma cidade grande como Gaia, «a Raízes não é uma horta urbana. Somos uma empresa agrícola que demonstra a viabilidade económica da agricultura em zonas onde a pressão urbanística é enorme».
Aos produtos hortícolas, a Raízes junta nos seus cabazes frutas (que podem ser adquiridos na loja on-line). «Trabalhamos com vários agricultores certificados que nos fornecem outros produtos frescos, nomeadamente frutas. Para além disso temos ainda uma vasta oferta de produtos de mercearia com arroz biológico, farinha, massas e vários tipos de feijão», acrescenta Pedro.
As preocupações ambientais são uma prioridade para Pedro e Sarah. A localização da produção próximo de um grande centro urbano acontece porque os jovens empreendedores acreditam que «a agricultura de proximidade deve ser uma aposta estratégica no desenvolvimento das cidades».
Pedro Rocha pormenoriza: «tendo em conta que o preço da energia continuará a subir e o custo dos produtos alimentares sofrerá um contínuo aumento devido aos enormes gastos energéticos no transporte e armazenamento, a produção local para consumo local será no futuro indispensável».
A Raízes contribui ainda para o equilíbrio da ocupação do solo em zonas urbanas, «onde a agricultura também deve ser considerada, não só os parques e jardins de lazer», conclui o entrevistado.
No desenvolvimento desta empresa sustentável no sector agrícola tem relevo também o modo de produção escolhido, o biológico. «Para nós não faria sentido pensar noutro tipo de agricultura. A utilização de pesticidas, fertilizantes químicos e os sistemas de monocultura são extremamente negativos em termos ambientais, para além de ser fundamental para a nossa saúde que os alimentos estejam livres de químicos», diz Pedro.
Mas não basta cultivar em modo biológico, é necessário que se reduza os custos de transportes dos produtos. Mais uma vez, Pedro sublinha a importância da proximidade: «os produtos biológicos do Chile ou da Argentina não deixam de ter um enorme impacto ambiental devido ao transporte a que estão sujeitos. Para que a agricultura seja realmente sustentável é necessário aproximar a produção dos consumidores, reduzir o transporte e as necessidades de armazenamento em câmaras de frio e por isso falamos numa agricultura ecológica».
Um objectivo traçado que pode ter sucesso, tendo em conta que o consumidor, de acordo com a perspectiva de Pedro Rocha, tem vindo a revelar maior interesse pelos biológicos, ainda que careça de alguma informação sobre as mais-valias deste processo agrícola.
«Ao longo destes anos verificamos um aumento considerável do interesse por este tipo de agricultura por parte das pessoas, o que se tem reflectido num crescimento contínuo no consumo de produtos biológicos. Existe contudo uma grande necessidade de informar as pessoas para os benefícios do consumo de produtos biológicos, pois uma parte da população ainda não compreende a importância de consumir produtos isentos de químicos e do impacto que os químicos e práticas agrícolas intensivas têm nos ecossistemas e consequentemente nas nossas vidas».
Também aqui a Raízes quer deixar a sua marca, na parte informativa e formativa da sociedade. Por isso desenvolve na Quinta de Arcozelo um projecto educacional. «Estamos disponíveis para participar em actividades educativas, desde simples palestras, visitas a escolas, receber pessoas na quinta ou organizar workshops», diz Pedro.
Neste âmbito, a Raízes organiza, todos os anos, um piquenique vegetariano na quinta. Uma iniciativa promovida em parceria com a Associação Casa da Horta.
Crescer pela persistência
Pedro Rocha e Sarah Krüger lançaram-se neste projecto com a falta de capital para o investimento. «Somos jovens que apenas partilham uma vontade comum, mas que não tinham o capital necessário para desenvolver o projecto». Pedro considera pois que ainda hoje se mantém nesta actividade, passados seis anos, pela persistência. «Fomos sempre obrigados a procurar as melhores soluções, a ponderar muito bem nas decisões», diz, sublinhando assim que «a falta de acesso a capital para investir continua a ser a principal dificuldade, que no nosso caso é superada com muita determinação e persistência».
O empreendedor refere que as linhas de crédito disponíveis não se adequam à agricultura, uma actividade económica que tem de ser pensada a 10, 15 e 20 anos. «Não existem quaisquer linhas de crédito a baixo juro pensadas especificamente para a instalação de um jovem agricultor. Sendo a agricultura uma actividade que exige um pensamento a longo prazo torna-se na maioria das vezes impossível para um jovem recorrer à banca para investir e ter de amortizar um crédito em três anos».
Pedro conclui ainda que «os incentivos também deveriam valorizar mais os investimentos na agricultura biológica, assim como as explorações agrícolas direccionadas para o mercado local e com dimensões até cinco ou seis hectares».
O projecto Raízes foi também submetido no âmbito de programas comunitários, nomeadamente o PRODER. Incentivos que Pedro considera «positivos» ainda que lamente a morosidade do processo.
«No nosso caso, entregamos a candidatura ao PRODER no primeiro trimestre de 2009 e só no último trimestre de 2010 é que tivemos a confirmação do projecto ser aprovado», conta.
Os jovens empreendedores, respectivamente com 35 e 32 anos, contam que a iniciativa Raízes «partiu da vontade de ter um projecto próprio de acordo com princípios com os quais nos identificamos. Estando a nossa formação ligada às ciências do ambiente, biologia e sociologia, o conceito desenvolvido para a Raízes, de agricultura biológica em contexto urbano, foi a nossa aposta. Uma empresa, para além de economicamente viável, também ecológica e socialmente sustentável», explica Pedro.
O início da empresa decorreu no sector comercial, «vendendo cabazes de produtos biológicos com entrega directa ao domicílio». Em 2008, Pedro e Sarah alcançam um dos grandes objectivos: cultivar. «Conseguimos encontrar o espaço ideal para a implementação do projecto de produção. Contudo, esta opção de arrancar logo com a parte comercial começa agora a revelar-se uma excelente aposta pois temos uma boa parte do escoamento da nossa produção garantido», conta Pedro Rocha.
Hoje o projecto Raízes produz hortícolas em dois hectares de terreno (arrendado) localizados em Arcozelo, a sensivelmente dez quilómetros de Vila Nova de Gaia. Pedro sublinha que, apesar da proximidade com o litoral e com uma cidade grande como Gaia, «a Raízes não é uma horta urbana. Somos uma empresa agrícola que demonstra a viabilidade económica da agricultura em zonas onde a pressão urbanística é enorme».
Aos produtos hortícolas, a Raízes junta nos seus cabazes frutas (que podem ser adquiridos na loja on-line). «Trabalhamos com vários agricultores certificados que nos fornecem outros produtos frescos, nomeadamente frutas. Para além disso temos ainda uma vasta oferta de produtos de mercearia com arroz biológico, farinha, massas e vários tipos de feijão», acrescenta Pedro.
As preocupações ambientais são uma prioridade para Pedro e Sarah. A localização da produção próximo de um grande centro urbano acontece porque os jovens empreendedores acreditam que «a agricultura de proximidade deve ser uma aposta estratégica no desenvolvimento das cidades».
Pedro Rocha pormenoriza: «tendo em conta que o preço da energia continuará a subir e o custo dos produtos alimentares sofrerá um contínuo aumento devido aos enormes gastos energéticos no transporte e armazenamento, a produção local para consumo local será no futuro indispensável».
A Raízes contribui ainda para o equilíbrio da ocupação do solo em zonas urbanas, «onde a agricultura também deve ser considerada, não só os parques e jardins de lazer», conclui o entrevistado.
No desenvolvimento desta empresa sustentável no sector agrícola tem relevo também o modo de produção escolhido, o biológico. «Para nós não faria sentido pensar noutro tipo de agricultura. A utilização de pesticidas, fertilizantes químicos e os sistemas de monocultura são extremamente negativos em termos ambientais, para além de ser fundamental para a nossa saúde que os alimentos estejam livres de químicos», diz Pedro.
Mas não basta cultivar em modo biológico, é necessário que se reduza os custos de transportes dos produtos. Mais uma vez, Pedro sublinha a importância da proximidade: «os produtos biológicos do Chile ou da Argentina não deixam de ter um enorme impacto ambiental devido ao transporte a que estão sujeitos. Para que a agricultura seja realmente sustentável é necessário aproximar a produção dos consumidores, reduzir o transporte e as necessidades de armazenamento em câmaras de frio e por isso falamos numa agricultura ecológica».
Um objectivo traçado que pode ter sucesso, tendo em conta que o consumidor, de acordo com a perspectiva de Pedro Rocha, tem vindo a revelar maior interesse pelos biológicos, ainda que careça de alguma informação sobre as mais-valias deste processo agrícola.
«Ao longo destes anos verificamos um aumento considerável do interesse por este tipo de agricultura por parte das pessoas, o que se tem reflectido num crescimento contínuo no consumo de produtos biológicos. Existe contudo uma grande necessidade de informar as pessoas para os benefícios do consumo de produtos biológicos, pois uma parte da população ainda não compreende a importância de consumir produtos isentos de químicos e do impacto que os químicos e práticas agrícolas intensivas têm nos ecossistemas e consequentemente nas nossas vidas».
Também aqui a Raízes quer deixar a sua marca, na parte informativa e formativa da sociedade. Por isso desenvolve na Quinta de Arcozelo um projecto educacional. «Estamos disponíveis para participar em actividades educativas, desde simples palestras, visitas a escolas, receber pessoas na quinta ou organizar workshops», diz Pedro.
Neste âmbito, a Raízes organiza, todos os anos, um piquenique vegetariano na quinta. Uma iniciativa promovida em parceria com a Associação Casa da Horta.
Crescer pela persistência
Pedro Rocha e Sarah Krüger lançaram-se neste projecto com a falta de capital para o investimento. «Somos jovens que apenas partilham uma vontade comum, mas que não tinham o capital necessário para desenvolver o projecto». Pedro considera pois que ainda hoje se mantém nesta actividade, passados seis anos, pela persistência. «Fomos sempre obrigados a procurar as melhores soluções, a ponderar muito bem nas decisões», diz, sublinhando assim que «a falta de acesso a capital para investir continua a ser a principal dificuldade, que no nosso caso é superada com muita determinação e persistência».
O empreendedor refere que as linhas de crédito disponíveis não se adequam à agricultura, uma actividade económica que tem de ser pensada a 10, 15 e 20 anos. «Não existem quaisquer linhas de crédito a baixo juro pensadas especificamente para a instalação de um jovem agricultor. Sendo a agricultura uma actividade que exige um pensamento a longo prazo torna-se na maioria das vezes impossível para um jovem recorrer à banca para investir e ter de amortizar um crédito em três anos».
Pedro conclui ainda que «os incentivos também deveriam valorizar mais os investimentos na agricultura biológica, assim como as explorações agrícolas direccionadas para o mercado local e com dimensões até cinco ou seis hectares».
O projecto Raízes foi também submetido no âmbito de programas comunitários, nomeadamente o PRODER. Incentivos que Pedro considera «positivos» ainda que lamente a morosidade do processo.
«No nosso caso, entregamos a candidatura ao PRODER no primeiro trimestre de 2009 e só no último trimestre de 2010 é que tivemos a confirmação do projecto ser aprovado», conta.
fonte:http://www.cafeportugal.net/